O que é DECUPAGEM?

A decupagem é o processo no qual o diretor divide o roteiro em planos durante a produção de um filme, definindo como cada cena será gravada.

Isso envolve a escolha dos ângulos de câmera, enquadramentos, lentes, além de como os atores e cenários serão apresentados.

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RECORTAR A REALIDADE

Antes da gravação de um filme, geralmente é produzido um roteiro decupado ou técnico que descreve os planos que a equipe irá gravar. O diretor deve decupar todo o roteiro antes de iniciar as gravações.

O termo “decupagem” tem origem no francês e significa “recortar”. O verbo découper refere-se a recortar, e a decupagem é, essencialmente, um recorte do mundo. O diretor escolhe como mostrar cada momento do filme por meio desses recortes.

Marcel Martin, autor do livro A Linguagem Cinematográfica, afirma:

Ou seja, a decupagem define exatamente o que a câmera vai captar e, consequentemente, como o filme apresentará uma visão particular do mundo.

Muitos cineastas produzem desenhos de como cada plano será gravado. Esses desenhos, chamados de storyboards, ajudam a equipe a visualizar o que será registrado pela câmera.

A decupagem é especialmente importante para o diretor de fotografia, que ajudará o diretor a executar tecnicamente as escolhas feitas, mas também é relevante para toda a equipe do filme.

Para o ator, é essencial saber qual parte do corpo estará em quadro; para a direção de arte, é importante entender como organizar os objetos e construir os cenários que estarão em quadro.

Além disso, o montador precisa compreender a dinâmica da decupagem, já que ela pode influenciar diretamente o ritmo da obra durante a montagem.

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A COBERTURA DA CENA

Outra definição útil para decupagem é que ela se refere à forma como o diretor “cobre” uma cena: quais planos serão usados, quantos planos serão necessários e como serão executados.

Alguns diretores utilizam muitos planos diferentes para cobrir uma cena, enquanto outros preferem uma abordagem mais econômica, com poucos planos.

David Fincher, por exemplo, é conhecido por usar diversos ângulos e enquadramentos na gravação de uma mesma cena.

Em A Rede Social (2010), o diálogo de abertura foi gravado com múltiplos planos — over the shoulder, closes e planos médios — criando um ritmo dinâmico e peculiar ao estilo do diretor. No clímax da cena, um close frontal expressivo da personagem de Rooney Mara reforça o impacto dramático.

Por outro lado, um cineasta como M. Night Shyamalan frequentemente utiliza menos planos. No filme Corpo Fechado (2000), por exemplo, há uma cena em que os personagens de Bruce Willis e Robin Wright conversam em um bar.

Toda a cena é resolvida em um único plano, que começa aberto e, com um movimento de dolly in, se transforma em um plano médio de perfil dos dois personagens.

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A DECUPAGEM E O OLHAR DO CINEASTA

A decupagem também reflete a unidade estilística do diretor, evidenciando sua visão sobre o roteiro e seu método de trabalho.

Cineastas como Claire Denis e Terrence Malick decupam seus filmes com grande liberdade, utilizando câmera na mão e quebras de eixo, criando uma sensação de intimidade.

Quebrar o eixo significa desobedecer à regra dos 180 graus, que recomenda manter a câmera em um mesmo eixo durante uma cena para evitar confundir o espectador.

Em Desejo e Obsessão (2001), de Claire Denis, uma cena de beijo no corredor de um hotel apresenta uma mudança abrupta de lado, invertendo a posição do casal e quebrando a regra de eixo. Esse recurso, que poderia ser considerado um “erro”, é utilizado de forma expressiva para deslocalizar intencionalmente o espectador.

Já cineastas como David Fincher e Alfred Hitchcock seguem princípios mais rígidos, priorizando planos fixos e construindo cenas de maneira sistemática. Hitchcock, inclusive, ficou famoso por criar esquemas detalhados para as cenas de seus filmes.

Na famosa cena do banheiro em Psicose (1960), os planos fragmentados da personagem e do espaço acompanham os movimentos da faca, criando uma tensão inconfundível.

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A RELAÇÃO DA DECUPAGEM COM A MONTAGEM

A decupagem pode ser dividida em três etapas: o roteiro decupado, a gravação e a montagem das cenas.

Na primeira etapa, o diretor planeja no papel os planos que serão gravados. Na segunda, ele e sua equipe concretizam essa visão, encontrando soluções técnicas para alcançar os planos definidos. Na terceira etapa, o filme é montado, e a decupagem ganha seu sentido final.

A relação entre decupagem e montagem é crucial. A montagem dá o sentido final à decupagem porque ela ordena os planos de forma que a característica da decupagem seja potencializada.

Nos filmes de Terrence Malick, a montagem é ainda mais essencial, pois devido ao processo livre do cineasta, que inclui improvisação e, em alguns casos, um roteiro mais aberto, o filme é construído na montagem.

Malick filma muitas cenas de forma livre e os seus montadores o ajudam a encontrar um sentido total, reorganizando a narrativa e até mesmo cortando personagens inteiros na hora de montar.

Embora a decupagem não siga regras fixas, ela deve se basear em um princípio criativo que permeie todas as suas fases: roteiro, gravação e montagem. Esse princípio é fundamental para garantir coerência e expressividade, independentemente do estilo do diretor.

Seja em filmes frenéticos como os de Fincher, minimalistas como os de Shyamalan ou contemplativos como os de Malick, a decupagem é uma ferramenta indispensável para expressar a visão do cineasta.

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