INTRODUCTION (2021): Elogio ao gesto

Hong Sang-soo reflete sobre as limitações da palavra como um meio de expressão

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Apesar das três histórias que formam Introduction mostrarem, em algum momento, sempre um mesmo personagem; os episódios funcionam, também, de modo independente. O jovem Youngho está presente nas 3 narrativas, mas ele representa menos um protagonista clássico e mais uma figura recorrente que pontua os segmentos do filme de Hong Sang-soo. A sua presença existe mais para evidenciar a estrutura da obra do que para monopolizar o seu drama.

Como em quase todas as obras do sul-coreano, Introduction é um filme formado por diálogos e encontros entre seus personagens. Porém, nesse caso, o tema central da obra é a impossibilidade da palavra como um meio de expressão ideal.

Durante as três histórias, existe um contraste muito claro entre as conversas dos personagens e seus gestos. Enquanto os diálogos parecem não levar os temas e as intenções daquelas pessoas para muito longe, a interação física mais sutil entre o elenco expressa um sentimento intenso.

O final do primeiro segmento (o abraço na chuva entre Youngho e uma mulher que trabalha com seu pai) e do último (o amigo colocando o casaco no personagem depois dele se molhar) são momentos de uma força lírica muito mais fortes que os diálogos que antecedem tais ações.

Temos a impressão que, nesses momentos, o filme atinge uma espécie de metafísica da simplicidade. Tudo o que não foi possível resolver com a palavra é assimilado por uma intenção que supera qualquer discurso verbal.

Nesse sentido, Introduction é um dos filmes de Hong Sang-soo que mais romantiza as pequenas ações. Mesmo que essa contemplação por aspectos triviais e íntimos seja comum em sua filmografia (o recente A Mulher que Fugiu (2021) trabalha muito com isso), o modo como Introduction usa certos elementos da linguagem de modo mais poético, se comparado a outros filmes do diretor, é bastante específico.

A música e o fade out no final de cada segmento, por exemplo, são escolhas poéticas que podem soar óbvias em como são trabalhadas, escolhas que até mesmo não se encaixariam em alguns dos últimos filmes do cineasta, mas que aqui funcionam muito bem como a evidência dessas resoluções não verbais.

Mesmo quando Hong Sang-soo costuma usar a música de modo mais lírico em outros filmes, existe sempre alguma estranheza a mais. Ou, pelo menos, algum elemento deslocado que coexiste junto com esse tom poético mais clichê.

Aqui ele assume, na medida do possível, uma relação estilística mais convencional com alguns aspectos sentimentais dos personagens. Além da música e dos fades, o próprio uso do preto e branco reforça essa ideia. Ainda que não seja um preto e branco estilizado, a abordagem monocromática torna aqueles gestos mais poéticos ao mesmo tempo que usa a falta de cor para não torná-los tão óbvios.

Em contraste a essa abordagem poética mais convencional, o cineasta volta a se utilizar de uma estrutura narrativa menos linear (levando em conta os últimos filmes) e concebe até um interstício bem sugestivo na cena do sonho em que o Youngho encontra sua namorada (agora ex) na praia.

Aliás, a própria situação da namorada, nessa cena que não faz parte direta da realidade dramática do filme, remete a Na Praia à Noite Sozinha (2017). Como se aquele evento fosse uma projeção direta de uma Kim Min-hee que aqui não está em um papel principal, mas ainda assombra essas arestas mais abertas da narrativa.

Mesmo que esse filme evoque alguns dos artifícios das obras de estruturas mais complexas, esse caminho em direção a uma simplicidade que marca a atual fase do diretor continua muito presente. Introduction até flerta com estes dois lados (as tramas com artifícios dos filmes antigos e as tramas lineares atuais), mas o seu tema central se utiliza muito bem de aspectos triviais para construir o seu impacto.