O cinema noir nasce da sombra dos filmes de gângster dos anos 1930. Obras que já refletiam a crise moral e econômica dos Estados Unidos.
Nos anos 1940, essa energia se transforma em algo mais introspectivo: o noir clássico. Nele, o foco deixa de ser o ato criminoso e passa a ser o labirinto psicológico dos personagens.
Décadas depois, o neonoir retoma esse universo de modo autoconsciente, revisitando o passado com nostalgia, ironia e uma nova consciência estética.
Esta seleção de 10 filmes traça um panorama histórico. Das origens nos filmes de gângster à sofisticação autoconsciente do neonoir, revelando como cada época projetou suas próprias sombras na tela.
Ao longo dessas décadas, o noir se transforma junto com o próprio cinema, passando do realismo urbano ao existencialismo psicológico, da luz dura dos becos americanos às abstrações formais do Japão e da Europa pós-guerra.
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Alma no Lodo (1929) – Mervyn LeRoy
Disponível para alugar no Prime Video
Um criminoso de pouca importância tenta ascender na hierarquia do crime organizado.
Clássico do cinema de gângster, o uso de luz contrastada e a atmosfera opressiva do espaço urbano já antecipam elementos característicos do film noir.
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Relíquia Macabra (1941) – John Huston
Disponível para alugar no Prime Video
Um detetive particular se envolve com criminosos e mulheres fatais na busca por uma valiosa estátua.
Um dos primeiros exemplos plenamente formados do noir clássico, com fotografia de alto contraste, ambientes fechados e diálogos cínicos que moldariam o estilo e o tom moralmente ambíguo da década de 1940.
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Pacto de Sangue (1944) – Billy Wilder
Disponível no Belas Artes À La Carte
Um vendedor de seguros e uma mulher casada planejam o assassinato do marido para receber o prêmio da apólice.
Narrado em flashback e com voz em off, o filme transforma o desejo e a culpa em um jogo de sombras e obliquidades visuais.
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À Beira do Abismo (1946) – Howard Hawks
O detetive Philip Marlowe é contratado para resolver um caso complexo de uma família rica, mas se perde num labirinto moral e narrativo.
A estrutura pouco didática e os contrastes visuais intensificam a ambiguidade da narrativa, marcando o noir como uma experiência de desorientação e desejo.
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Fuga do Passado (1947) – Jacques Tourneur
Disponível no Looke
Um homem tenta escapar de seu passado criminoso, mas é atraído de volta ao mundo do crime.
A fotografia expressionista de Nicholas Musuraca, que alterna luzes duras e suaves, espaços abertos e claustrofóbicos, cria atmosferas singulares.
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Ascensor para o Cadafalso (1958) – Louis Malle
Disponível no Plex
Um assassinato perfeito dá errado quando o autor fica preso em um elevador.
Jazz de Miles Davis, iluminação realista e câmeras leves anunciam a modernização do noir na França, aproximando-o da Nouvelle Vague e da deambulação urbana.
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Redenção (1959) – Roberto Pires
Disponível no Youtube
Dois homens hospedam um estranho misterioso, dando início a um suspense de tons sombrios e moral ambígua.
Filmado com uma lente anamórfica criada pelo próprio diretor, o longa adota uma estética clássica e estilizada, aproximando o noir americano de um raro rigor técnico dentro do cinema brasileiro da época.
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Flor Seca (1964) – Masahiro Shinoda
Um gângster recém-saído da prisão se envolve com uma mulher rica e viciada em jogos.
Shinoda reduz a trama ao essencial e transforma o noir em experiência sensorial. Preto e branco enigmático, composições minimalistas e e trilha experimental criam uma atmosfera hipnótica e fatalista.
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Chinatown (1974) – Roman Polanski
Disponível para alugar no Prime Video
Um detetive particular contratado para investigar um caso de adultério acaba preso em uma trama de corrupção e assassinato.
O neonoir como tragédia moderna. Luz solar e tons ocres substituem o preto e branco, mas o mesmo sentimento de impotência moral permanece.
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O Poder da Sedução (1994) – John Dahl
Uma mulher ambiciosa engana todos ao seu redor para ascender financeiramente.
O noir reconfigurado pelos anos 1990. Cinismo e erotismo em tons frios, com a femme fatale no centro. Agora como agente absoluta do desejo e da manipulação.