A HORA DO MAL (2025): Ambição estrutural e descompasso narrativo

Zach Cregger constrói um jogo narrativo engenhoso, mas acaba refém de uma estrutura que funciona como mero artifício

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Quando alunos desaparecem misteriosamente em uma pequena comunidade escolar, uma professora se vê no centro de uma trama de medo e suspeita. Entre segredos ocultos e forças sombrias, ela precisa enfrentar tanto o horror externo quanto seus próprios fantasmas íntimos para descobrir a verdade.

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A Hora do Mal (2025) se insere na leva de filmes de terror contemporâneos que buscam conciliar duas pulsões aparentemente divergentes.

De um lado, a seriedade estética e o peso dramático associados ao chamado “terror elevado”. De outro, uma inclinação para o humor, capaz de oferecer respiros e desconfortos adicionais ao espectador.

Existe, sem dúvida, um mérito em como a obra consegue trafegar entre esses registros, encontrando uma interseção curiosa entre a solenidade do horror e a ironia da comédia.

Nos primeiros minutos, essa combinação sugere um resultado promissor. O filme parece flertar com o espírito satírico de Eleição (1999), de Alexander Payne, só que traduzido para uma chave sombria, quase paródica, do cinema de terror psicológico. No entanto, a execução logo revela um problema de proporção.

A estrutura escolhida – uma montagem em espiral que posterga resoluções e embaralha linhas narrativas – se apresenta, a princípio, como um artifício sofisticado. Existe um fascínio inicial em acompanhar um quebra-cabeça que parece prometer revelações de grande impacto no desfecho.

Mas essa promessa se mostra ilusória. O mecanismo narrativo serve mais para prolongar artificialmente a duração do filme do que para enriquecer a experiência estética. O efeito é um adiamento constante que gera frustração, como se a obra estivesse mais preocupada em sustentar a expectativa do que em propor soluções narrativas consistentes.

A consequência direta dessa estratégia é a inserção de personagens secundários que, embora numericamente numerosos, carecem de densidade dramática.

Muitos deles funcionam quase como “NPCs” de videogame: surgem para preencher lacunas da trama, mas permanecem superficiais, desviando a atenção do núcleo principal e, por vezes, comprometendo o ritmo. Essa dispersão enfraquece a atmosfera de terror, que se dilui em digressões de pouco impacto.


Se reduzido à sua essência conceitual de terror, o filme se aproxima mais de um curta-metragem bem concebido do que de um longa plenamente justificado.

A estratégia de Cregger parece ser a de inflar ao máximo um conceito engenhoso, mas limitado, esticando-o até os limites da paciência do espectador. É um problema clássico de escala. Uma boa ideia não necessariamente sustenta uma longa duração sem que haja expansão temática ou inventividade formal proporcional.

Ainda assim, A Hora do Mal não é destituído de qualidades. O trabalho de Julia Garner é exemplar. Sua performance oferece camadas que poderiam ter sido mais bem exploradas, já que a atriz confere à personagem uma mistura de vulnerabilidade e pragmatismo, equilibrando insegurança íntima e ternura quase maternal em relação aos alunos e à comunidade retratada.

Essa ambiguidade dá indícios de um filme que poderia ter aprofundado o aspecto humano da narrativa, tornando-o mais do que um exercício de estilo.

Do ponto de vista formal, é possível reconhecer algum virtuosismo na tentativa de construir uma atmosfera inquietante por meio do ritmo fragmentado da montagem. Contudo, quando a forma se torna uma finalidade em si mesma, o risco é transformar o fascínio inicial em repetição estéril.