NADA DE NOVO NO FRONT (2022): Drama televisivo

Edward Berger propõe uma adaptação ilustrativa e sem qualquer olhar próprio

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UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA

Nada de Novo no Front (2022) é uma espécie de Vá e Veja (1985) da era do streaming.

O filme propõe uma relação bastante imediata com o campo de batalha e com a ação direta da guerra, o que, teoricamente, reforçaria o aspecto traumático que é um dos cernes da premissa, mas tudo é mediado por um tom ilustrativo de série de TV com fundo histórico que quer passar uma “mensagem importante”.

Toda tentativa de evidenciar um aspecto cru da guerra encontra uma reação “reflexiva” que pega o espectador pela mão e, consequentemente, transforma aquilo em algo novelesco no pior sentido que essa palavra possa ter.

Uma abordagem que, inclusive, até ameniza alguns elementos do drama. As situações entre as batalhas, principalmente, tentam propor algo espontâneo na relação entre os soldados, mas acabam caindo nessa linha pedagógica. As conversas soam calculados e forçadas.

Toda ação, no filme, é sucedida por alguma meditação, por alguma moral da história. Não é como no filme de Elem Klimov em que a brutalidade, por si só, já era a moral e já dava conta de evidenciar a sua mensagem do modo mais definitivo possível.

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UMA ESTÉTICA IMPESSOAL

E mesmo visualmente falando, me parece um filme com cara de série de tv. A fotografia azulada e sem textura só repete alguns clichês visuais de filmes de guerra. Pior ainda, busca uma espécie de objetividade genérica em seu pretenso realismo. É um filme que está mais interessado em uma eficiência do que em um olhar próprio sobre aqueles eventos.

O trabalho não quer assumir uma perspectiva sobre a sua premissa, quer apenas ilustrar os seus acontecimentos com uma pitada de melodrama comovente para prender o espectador.

Até Steven Spielberg quando faz filmes de guerra com aquela velha moral de história oscarizável é mais honesto. E mesmo Christopher Nolan com as suas pirotecnias assume uma ideia épica com todas as letras (ainda que tosca).

Aqui, Edward Berger quer passar uma ideia mais crua e uma certa relação de proximidade que, em tese, representaria bem esse andamento mais lento e rudimentar da Primeira Guerra, mas é simplesmente impessoal.

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O DESGASTE DA GUERRA

Para não falar que foi tudo perdido, acho interessante como a caracterização do protagonista consegue evidenciar uma ideia de passagem do tempo e de experiências de choque apenas pelo rosto dele.

É como se ele realmente envelhecesse naquele período. O ator vai adquirindo um ar resignado e, de alguma forma, se integra naqueles ambientes; literalmente para de se destacar como um personagem/pessoa.

Essa desumanização e esse modo como os soldados viram apenas parte daquele espaço é bem explorado em alguns momentos. É das poucas ideias que o cineasta de fato traduz bem em escolhas estéticas. Mas infelizmente é algo pontual e que ganha força apenas em cenas específicas.