ADÃO NEGRO (2022): Eficiência impessoal

Apesar de evidenciar uma ingenuidade positiva, filme cai em fórmula desgastada

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É estranho como Adão Negro (2022) é um filme que soa genérico em muitos aspectos e, ao mesmo tempo, possui uma ingenuidade que lembra alguns dos primeiros trabalhos dessa onda contemporânea de filmes de heróis.

Muito coisa no filme de Jaume Collet-Serra soa datada e, basicamente, formulaica. Principalmente em como o longa usa frases de efeito, piadinhas aleatórias e uma contextualização bem superficial dos personagens para fazer a história andar.

Ainda assim, existe um gosto por cenas de embate farofentas e que usam o CGI de modo assumidamente mais fake. Coisas que hoje não dialogam com o “bom gosto” do gênero (seja no âmbito da DC ou da Marvel). Infelizmente, apesar dessa boa caracterização em alguns momentos, são cenas que estão longe de serem bem dirigidas.

Os momentos de ação até exploram bem o aspecto fantasioso e solene do universo da DC que tenta fugir de um estilo mais realista da Marvel, mas a maioria das escolhas de decupagem são meramente eficientes e Collet-Serra parece que está apenas fazendo um freela para ser aprovado pelo cliente

Mesmo quando o cineasta explora esse CGI assumido e usa slow motion, coisas que ele usava bem quando lidava com estéticas mais artificiais em seus outros filmes, tudo continua com essa cara de cena genérica com pós-produção de grande estúdio.

Até existe uma coisa ou outra mais interessante no uso das cores, quase que uma paleta em um meio-termo entre os filmes escuros da DC e os vibrantes da Marvel; e também no modo em que todas as formas são mais maleáveis, mas não é nada que dura por muito tempo.

Eu acho que, dependendo do espectador, esses vestígios de boas ideias ou mesmo essa abordagem que, ironicamente, já poderíamos chamar de old school, podem proporcionar uma certa nostalgia daquilo que não foi.

Querendo ou não, esse subgênero dos filmes de herói nos seus moldes contemporâneos se iniciou com uma inocência semelhante. Os primeiros filmes do Homem de Ferro e dos Vingadores possuíam o seu cinismo, mas exploravam bem o apelo básico de um certo encantamento por aquelas figuras. Ou, ainda, preservavam um mistério sobre de que modo o cinema contemporâneo e tecnológico de hoje representaria aquilo.

Naqueles filmes, as figuras se valiam um pouco mais de si mesmas, já que eram trabalhos que apostavam nessa apresentação e mesmo em algumas funções básicas do subgênero. Até os combates eram mais lentos, pontuais e exploravam uma farofada aqui ou ali.

Não sei até que ponto Adão Negro (2022) tinha a intenção de dialogar com isso (o fato de ser um projeto antigo já filia ele a esse contexto de algum modo), mas com certeza existem traços bem marcantes desses filmes de mais de 10 anos atrás em vários momentos.

Pena que isso existe muito mais como uma sobra, ou uma consequência de um projeto executado de maneira bem irregular, e nunca como um conceito atuante.