RUÍDO BRANCO (2022): Adaptação vazia

Noah Baumbach não propõe um olhar cinematográfico sobre o livro de Don DeLillo

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É até interessante o modo que Noah Baumbach tenta se apropriar de algumas situações do livro de Don DeLillo para lidar com aspectos de uma sátira e de um drama contemporâneo de contexto norte-americano que já estão presentes no seu cinema.

A maneira como ele aborda a crise do casal, ou mesmo a relação com os filhos e todas as idiossincrasias daquele contexto de uma família pós-moderna, remetem a certas questões já tratadas em alguns dos filmes do cineasta.

Teoricamente, acredito eu, a ideia aqui seria lidar com isso em uma chave um pouco mais conceitual, ainda que mantendo a boa dinâmica (e a velocidade) nesse bate e volta dos diálogos que também é uma marca do diretor.

Eu gosto muito da ideia, mas não acho que Baumbach encontra um modo de realmente executar essa proposta na prática.

A dinâmica entre o elenco chega a funcionar bem em momentos específicos, principalmente quando os diálogos vão se atropelando e criando camadas de significados que se confundem quando um termina a frase do outro indiretamente, mas todas as escolhas estilísticas parecem fora de tom ou simplesmente não existem.

A caracterização (cenários, roupas, trejeitos dos personagens, ambientação), especialmente, integra a sátira de um modo bem genérico. Não que ele precisasse traduzir objetivamente o nível de impessoalidade que DeLillo sugere no livro. A questão é que ele simplesmente não faz escolhas nesse sentido e deixa o filme com a cara de uma novela irônica.

Também acho que a estrutura da história soa aleatória. O filme tenta, na medida do possível, descentralizar um pouco mais o personagem do Jack para dar espaço para os outros e acaba não desenvolvendo nenhum personagem em nenhum nível (nem em um nível conceitual ou convencional).

O problema não está na maneira em que o longa rejeita aspectos estilísticos que o livro sugere. Don DeLillo é um autor bastante cinematográfico e o próprio David Cronenberg se mostrou mais fiel a isso quando adaptou Cosmópolis. Ou seja, o propósito de Baumbach não parece ser, exatamente, esse.

E como eu sempre digo, uma adaptação não tem essa obrigatoriedade e pode servir, simplesmente, como uma premissa para um novo olhar do diretor. O problema está no fato da obra nunca propor esse olhar.

O filme se assemelha a um ensaio de uma peça baseada no livro. Ele funciona ao nível de uma leitura dramática com um elenco esforçado e um diretor que demonstra algum timing na disposição dos diálogos, mas nada além disso.