SKINAMARINK: CANÇÃO DE NINAR (2022): Artifício repetitivo

Apesar de conceito visualmente estimulante, Skinamarink é um filme que não sai do lugar

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A premissa Michael Snow dirigindo Insidious, de Skinamarink (2022), é muito boa. E o filme até cria um dispositivo narrativo e formal que poderia dar conta disso.

Os enquadramentos que mostram apenas partes dos elementos da casa e toda a limitação do olhar não remetem apenas a algo conceitual, mas a uma lógica de desenhos infantis que só mostra os pés dos adultos ou apenas parte dos ambientes internos.

É um filme que encontra uma solução formal bem interessante nesse sentido, já que integra aspectos particulares da sua temática (a visão subjetiva, assustada e até meio chapada de sono das crianças) com as escolhas de decupagem e com as escolhas estéticas de modo geral.

O grande problema é que ele não propõe nenhuma progressão dentro desse dispositivo que concebe. Apenas apresenta isso e fica dando voltas a partir do mesmo joguinho de climas. Existe, no meio disso, momentos específicos bons, como a aparição dos pais e algumas interações entre as crianças, mas no geral é um filme que não sai do lugar.

É uma abordagem que poderia funcionar dentro dessa narrativa de pesadelo, realmente poderia se bastar apenas pelos elementos que apresenta, mas teria que organizar isso a partir de algum encadeamento sensorial bem mais específico.

A sensação que eu tenho, no final, é como se alguém resolvesse fazer um Império dos Sonhos (2006) sem ser o David Lynch. A pessoa apenas trabalha com aquela estética e com aquele clima sem uma real proposta de imersão e progressão. Cria uma base interessante e fica apenas tateando possibilidades.

Com certeza a intenção do diretor, aqui, é fazer uma obra mais narrativa do que um filme de Lynch, mas quando ele se dispõe a fazer isso através de um processo mais experimental, deve buscar, igualmente, uma “eficácia” a partir do seu método e não apenas ficar ruminando a própria proposta.

Vale ressaltar a ótima textura ruidosa da fotografia digital que, ao que tudo indica, trabalha com o sensor no seu limite e abusa do ISO para conseguir esse efeito. É uma imagem que assume uma aparência bem ambígua e vertiginosa entre película e um celular em baixa resolução. Algo que, definitivamente, foi essencial na atmosfera proposta e conta como um elemento isolado bastante positivo.