ATERRORIZANTE 2 (2022): Gore místico

Damien Leone parte de um imaginário gore para propor uma obra de forte apelo sensorial

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Confesso que eu estava desconfiado da duração de mais de 2 horas do filme, ainda mais levando em conta a abordagem bem enrolada do seu antecessor, mas no fim das contas é um trabalho que assume muito bem os seus excessos dentro de uma lógica anti-mainstream.

Aterrorizante 2 é um filme de terror que rejeita qualquer boa eficiência ou dinâmica mercadológica mais óbvia dentro de uma proposta subversiva muito bem equilibrada.

Existe sim toda uma gama de referências e tradições comuns que são expostas, consequentemente existem certos procedimentos familiares de um terror padrão, principalmente na maneira em que o filme contextualiza a vida dos personagens, justifica alguns conflitos básicos e até caracteriza algumas ameaças, mas de resto é uma obra que faz questão de rejeitar ideias de um “bom roteiro” e se empenha em uma relação muito destrutiva e onírica com tudo.

É um filme muito mais focado em explorar possibilidades audiovisuais práticas e concretas a partir dessa sua tendência gore-mística do que em aliar isso a uma ideia de filme vendável ou espertão. Não existe nenhuma surpresa ou tentativa de dialogar com qualquer tendência em voga. É praticamente o antiPânico (2022).

O apelo está centrado no exagero e no modo em que a protagonista lida com as dimensões que o filme apresenta para ela. Os aspectos do plot nunca são explorados como meros elementos de uma trama, mas sim como circunstâncias que geram essas dimensões a serem navegadas.

O pesadelo da personagem no início do filme, por exemplo, além de durar um bom tempo, possui vários detalhes e é gravado com a mesma fidelidade e atenção que a realidade das outras cenas.

A natureza do assassino Art é ambígua e está sempre envolta em uma noção sobrenatural indefinida (a companheira bizarra, agora, contribui para essa incerteza). As mortes funcionam como rituais de sacrifício em que, apesar da tendência prática e gráfica atestar essa objetividade da carne, nunca se sabe quando a pessoa de fato está morta.

O ato final, a partir de tudo isso, se transforma em uma espécie de ápice dessa estética constante de sonho e do sangue. Não existe um regime de realidade confiável e até mesmo a fantasia que a protagonista veste vira uma possibilidade a partir da perspectiva de uma super-heroína com poderes.

Toda essa proposta poderia, facilmente, ter se transformado em um simples fetiche vazio, mas o diretor preserva uma ingenuidade no seu olhar que nunca faz do filme uma viagem forçada. Os detalhes e possibilidades dessas dimensões que ele propõe passam a sensação de uma fascinação legítima por esses limites e por esses extremos das representações que constrói.

O fato dele trabalhar com esses limites tanto no sentido dos efeitos práticos (o gore) como também narrativo (o desprezo pelo roteiro e o interesse maior em propor, em suma, somente ambientações) traz uma unidade essencial para a proposta.

É uma sensibilidade bem específica, já que flerta com o experimental na sua concepção narrativa e também nas suas ideias de integração entre o gore e o fantástico. Apelos que eu não sei até que ponto irão funcionar fora desse nicho. Em contrapartida, também acredito que essa narrativa de suspensão vá despertar um encanto característico em um espectador mais aberto.