X: A MARCA DA MORTE (2022)

Ti West propõe uma homenagem gráfica e direta ao slasher

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Ambientado nos anos 70, X: A Marca da Morte mostra um grupo de jovens que vai gravar um filme adulto em uma propriedade no Texas mantida por um casal de idosos. Os jovens, no decorrer da história, começam a ser mortos por esse casal e o filme se revela uma homenagem ao subgênero do slasher.

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X: A Marca da Morte lembra muito A Casa do Diabo (2009), outro ótimo trabalho do diretor Ti West. Assim como no longa de 2009, essa é uma obra nostálgica que não usa as suas referências para se desconstruir ou ficar soltando sacadas espertinhas, mas para lidar com os apelos do seu gênero de modo mais direto.

O longa não tenta estabelecer um subtexto ou grande ambiguidade dramática – é até, no fim das contas, um trabalho anti A24 nesse ponto – e se foca em estímulos simples e imediatos.

Até existe uma caracterização talvez limpinha demais na tentativa de emular os anos 70 (a atmosfera cabin fever no ambiente soa um pouco falsa e cenográfica), mas o modo como o filme lida com as mortes possui uma falta de cerimônias que é muito bem-vinda.

Nesse sentido, o diretor consegue trabalhar com a expectativa e com o suspense de um modo muito natural. Ti West não perde muito tempo com joguinhos de perseguição e parece ter gosto mesmo pelas mortes. Não é um filme que tenta adiar nada ou criar falsas esperanças, já que o realizar demonstra uma reverência quase religiosa aos preceitos mais gráficos do gênero. Uma vez que o massacre começa, é só uma questão de tempo até sobrar um.

Mesmo a premissa dramática dos velhinhos assassinos funciona a partir da ideia de um apelo mais tradicional. É um filme que parte de motivações superficiais – a figura da Mia Goth e Jenna Ortega reiteram uma concepção mais tradicional e até mesmo fetichista de beleza – e estabelece a motivação psicopata dos vilões a partir da impossibilidade daquele casal em fazer parte da experiência sexual. Assim como em grandes clássicos do gênero, o desejo é o gatilho para a morte.

Ainda nesse flerte com aspectos clássicos do gênero, o longa conserva o julgamento moral dos anos 70 e 80 que ajudou a moldar o slasher. A era Reagan, por exemplo, foi essencial no contexto de filmes de terror em que o sexo era visto como algo errado e proibido.

Jenna Ortega começa o filme com uma pose de final girl boazinha deslocada, mas uma vez que cai na tentação de participar do filme adulto que está sendo gravado, já sabemos que não vai durar até o final. O fato da única sobrevivente ser a filha de um pastor também reforça esse lado.

Em termos formais, é interessante como Ti West consegue soar autêntico mesmo dentro dessa chave nostálgica já bastante desgastada nos dias e hoje. A luz do filme, no geral, não é tão contrastada e todas as cores são pouco saturadas.

Além disso, a lente da Hawk que é utilizada e os frenesis de tungstênio (boa parte do setup de luz, segundo o fotógrafo, foi construído com o que estaria disponível apenas nos anos 70) ajuda em uma certa aparência mais difusa, em uma concepção fotográfica que não tenta emular de modo óbvio uma estética retrô, mas busca essa textura clássica por meios técnicos mais legítimos.

Algumas escolhas de fotografia podem até soar “puristas” (provavelmente o diretor teria filmado em 16mm se pudesse), mas na prática, não soam óbvias. Toda a concepção estética da obra consegue manter um equilíbrio entre venerar aquele imaginário e nunca cair em uma ultra estilização óbvia. Nesse aspecto, o cineasta sempre mantém uma aproximação mais clássica e menos impositiva.