SUPPORT THE GIRLS (2018): Crônica sobre a cumplicidade

Andrew Bujalski renova sua abordagem realista em drama vigoroso

Andrew Bujalski ficou conhecido como um dos principais nomes do mumblecore. Uma tendência no cinema norte-americano que buscava retratar, através de filmes baratíssimos e filmados em câmeras digitais, os percalços de jovens adultos.

Os dois primeiros longas do diretor – Funny Ha Ha (2002) e Mutual Appreciation (2005) – são tidos como fundadores do movimento. E se por um lado são trabalhos onde a abordagem formal parece, até propositalmente, ser deixada um pouco de lado, conferindo certa despretensão nesse sentido (coisa ainda mais visível nos filmes de Joe Swanberg, outro padrinho do mumblecore e que evidencia um amadorismo despojado), por outro são obras que articulam um realismo muito espontâneo em seu trabalho com os atores.

Support the Girls (2018) acaba funcionando como a junção perfeita desse realismo íntimo, herdado do mumblecore, com uma maturidade dramática de maior unidade estilística. Além de um flerte mais direto com o cinema mainstream. Algo que Bujalski também buscou em Results (2015), mas que tem mais sucesso neste filme de 2018.

O filme se passa em um bar de esportes. Um ambiente ao estilo Hooters onde as garçonete vestem trajes curtos e tem um público alvo majoritariamente masculino. Lisa, vivida por Regina Hall, além de ser a gerente do local, é uma espécie de mãe para todas as outras funcionárias.

O que mais impressiona no filme é como ele articula uma familiaridade muito imediata entre as personagens. Toda a contextualização é rápida, porém dramaticamente muito efetiva. Existe um realismo que parte da singularidade das performances (Regina Hall e Haley Lu Richardson estão extraordinárias) para conceber um universo muito singular. Peculiaridades presentes tanto na construção dessas personagens como na maneira que elas interagem entre si.

Bujalski faz um filme realista onde o que se evidencia não é a abordagem naturalista, mas a maneira como isso potencializa a natureza dramática. A história é comovente, mas nunca didática. O filme, inclusive, faz questão de nos jogar no meio dos acontecimentos sem uma aproximação ilustrativa. Mergulhamos na narrativa pela perspectiva de Lisa e, a partir disso, criam-se pequenos núcleos que sempre estão em constante movimento.

O bar atua como um ponto de tensão dessa realidade, tanto de sua dimensão frustrante  como vigorosa. Lisa precisa resolver os constantes problemas que surgem (uma tentativa de roubo, o treinamento de novas garçonetes, uma crise com seu chefe) e ainda preservar o controle de tudo.  E apesar de todos os impasses, o senso de coletividade acaba transformando tudo em pequenas celebrações.

Apesar do filme focar mais na personagem de Regina Hall, não existe uma linearidade nesse contextualização. O diretor parece muito mais interessado em uma energia de interações, uma cumplicidade entre aquelas mulheres, do que em construir uma história que irá se resolver de maneira previsível.

Existe uma reflexão tanto sobre uma perspectiva do trabalho, de um senso de sobrevivência de um ambiente capitalista, como dos afetos que se cultivam nessa jornada. A sequência final é das mais esclarecedoras nesse ponto. Em um ambiente absolutamente impessoal (o terraço de um prédio comercial), algumas das personagens (agora desempregadas) interagem em tom de frustração e celebração. Conversam, bebem, gritam a plenos pulmões. O futuro é incerto, mas a união solidária permanece.

Bujalski constrói uma crônica melancólica e muito reveladora do seu país, mas rejeita um tom miserabilista. Torna esse contexto universal ao mesmo tempo em que particulariza aquelas experiências. Submete, efetivamente, a sua câmera a isso. Não é um filme autoral que impõe um olhar ou que possui uma vaidade em suas exposições, mas integra uma realidade e faz dela uma extensão dramática particular.