Kiyoshi Kurosawa resgata uma inocência dramática do cinema
Antes que Tudo Desapareça (2017) é um filme que, em um primeiro momento, pode parecer um pouco indeciso em relação as suas escolhas.
O longa parte de uma história de ficção científica onde seres de outros planetas planejam invadir a Terra. Alguns dos aliens tomam os corpos dos humanos e estão no nosso planeta para entender certos conceitos da humanidade como família, trabalho e propriedade. Tudo isso antes da invasão propriamente acontecer.
O filme parte dessa premissa, mas ele nunca funciona, exatamente, como uma ficção científica comum. Se logo de cara a obra soa hesitante em relação aos seus objetivos, Kiyoshi Kurosawa, aos poucos, mostra que está muito mais interessado em uma construção dramática que parte dessas ideias – de uma variação de gêneros que, além da ficção científica, inclui o policial, o romance e o terror – para resgatar uma inocência dramática do cinema.
Nesse sentido, Antes que Tudo Desapareça (2017) é um trabalho que vai sempre se desarmando. No início, pensamos se tratar de um suspense ou terror, mas logo o filme passa a assumir o seu foco dramático na redescoberta do humanismo de seus personagens. Uma redescoberta de conceitos que podem soar clichê – como amor e companheiros -, mas que são o verdadeiro tema da obra.
Existe uma relação muito inventiva com o cinema de gênero. O trabalho constrói cenas muito interessantes a partir dessa herança. Mas a unidade do filme está nesse drama elementar.
A forma como Kurosawa constrói as cenas já evidencia isso: o diretor possui um controle minucioso por tudo, cada gesto e cada movimento de câmera. É uma obra muito limpa nesse ponto. Não tenta esconder nada do seu espectador. Pelo contrário, existe uma relação muito imediata com tudo e as cenas são filmadas com uma entrega muito grande.
De uma sequência de tiroteio a uma cena de romance, preserva-se uma mesma singeleza. Uma recusa por artifícios que busca evidenciar as emoções humanas de maneira sóbria.
Apesar de heranças cinematográficas muito claras, Kurosawa não trabalha com a desconstrução dos gêneros cinematográficos. O diretor não quer manter uma relação autoconsciente com o trabalho, mas conceber uma dinâmica muito aberta com tudo o que propõe. Aceitar os mistérios e os encantos disso. O casal principal da trama ilustra isso muito bem. Ambos vão reaprendendo a viver, reaprendendo a amar a partir de uma perspectiva nova e natural. Mediante a tragédia iminente, renascem como seres humanos.
Existe, de modo geral, uma noção de coletividade e de união no filme inteiro. Algo que pode até ser comum em qualquer filme-catástrofe, mas que geralmente é abordado de forma tipificada. Antes que Tudo Desapareça (2017) faz dessa união e dos princípios básicos das relações humanas, o seu principal tema.
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